Para teorizar (conceituar) como os recursos são realmente usados, é necessário retornar a uma distinção frequentemente negligenciada, insistida por Vygotsky, sobre a maneira frouxa do uso da metáfora “ferramenta”, que obscurece a distinção entre ferramentas e signos.
Ferramentas e signos são semelhantes porque ambos são mediadores, físico e comportamental, respectivamente.
Mas essa semelhança esconde uma diferença fundamental.
Ferramentas de acordo com Vygotsky, mediam nossa relação com o mundo físico e signos mediam nossa relação com nossas próprias mentes ou com as de outros.
É importante notar que a distinção de Vygotsky entre ferramentas e signos não se baseia no elemento cultural ou no recurso em si, mas em como ele é usado … pela sua intenção de uso.
Por exemplo, uma pá pode ser usada como uma ferramenta para abrir uma porta, mas também pode ser usada como um signo, se for colocada perto da porta para lembrar uma pessoa para cavar um buraco.
Essa distinção é fundamental entre conceber a cultura baseada na atividade ou baseada da mediação semiótica (signos, sinais e símbolos).
As formas de transmitir a cultura podem ser: 1) focar em descrever a ferramenta (recurso) e enfatizar mediadores materiais, transportados ou 2) enfatizar a mediação semiótica e enfatizar signos e mediadores semióticos.
A tradição de expressar a cultura com foco na atividade descreve a ferramenta, enfatiza a “mediação da ação” no mundo, tende a suprimir a diferença entre ferramentas e signo, usa termos mais gerais, como “artefatos”, “meios mediacionais”, e não trata e resolve de forma clara o “problema da internalização” – como o sujeito interage e reflete sobre o resultado da experiência.
Já a mediação semiótica foca na percepção, pensamento e na ação do sujeito, vai além.
Vygotsky conceitua dois modos distintos de mediação, mediação implícita e explícita.
A mediação explícita … tende a implicar mediação por objetos externos, pessoas ou sinais, é frequentemente intencional e feita com consciência (p. 180).
A mediação implícita tende a ser interna, semiótica e raramente é objeto de consciência ou reflexão.
A distinção entre ferramenta e signo é precisa.
Os signos podem ser internos e externos.
Operam sobre outras mentes com dimensão externa, e podem ser comunicativos.
Os signos que operam sobre si mesmo são frequentemente internos (por exemplo, autoconversa), mas não precisam ser (por exemplo, um nó em um lenço como um mneônico).
Mediação não reflexiva e reflexiva.
O que significa o uso reflexivo de um recurso?
O usuário não reflexivo de um recurso foca nas minúcias da tarefa, os fins a serem alcançados, pode entrar no ” modo automático” pensando em algo completamente alheio à tarefa.
O usuário reflexivo do recurso, tem uma relação psicológica diferente com a tarefa, foca sua mente no recurso que está sendo usado e no modo de uso.
O uso reflexivo de um recurso, seja ferramenta ou sinal, implica no distanciamento do recurso e seu uso.
Tal distanciamento necessita de uma” “plataforma semiótica” (signos, sinais e símbolos) de “nível superior” para conceituar o recurso e seu e seu uso, via mediação.
Essa distinção entre uso reflexivo e não reflexivo do recurso é particularmente dinâmica … no curso de uma atividade, a consciência reflexiva do uso do recurso pode ir e vir.
A consciência reflexiva precisa ser temporária, porque enquanto o próprio recurso for o foco da consciência, é difícil prosseguir com a tarefa … exige uma carga cognitiva muito grande por parte do sujeito … como pensar tático e opracional ao mesmo tempo.
Em vez disso, a fase reflexiva é o momento de sair e reorganizar a tarefa de modo que a atenção possa voltar
a fazê-la, talvez, de uma nova maneira.
Recursos
Ferramentas (fazer)
Sinais
Mediação