Para teorizar (conceituar) como os recursos são realmente usados pelo ser humano e sujeito da ação, é necessário retornar a uma distinção frequentemente negligenciada, e insistida por Vygotsky, sobre a maneira frouxa do uso da metáfora “ferramenta”, que obscurece a distinção entre ferramentas e signos.
- Ferramenta e Signo são semelhantes porque ambos são mediadores.
- Mas essa semelhança esconde uma diferença fundamental.
- Ferramentas de acordo com Vygotsky, media nossa relação com o mundo físico e signo mediam nossa relação com nossa próprias mente ou com as de outros.
- É importante notar que a distinção de Vygotsky entre ferramenta e signo não se baseia no elemento cultural ou no recurso em si, mas em como ele é usado … pela sua intenção de uso.
- Por exemplo, uma pá pode ser usada como uma ferramenta para abrir uma porta, mas também pode ser usada como um signo, se for colocada perto da porta para lembrar uma pessoa para cavar um buraco.
- Essa distinção é fundamental entre conceber a cultura baseada na atividade ou baseada da mediação semiótica (signos, sinais e símbolos).
- A tradição de expressar a cultura com foco na atividade descreve a ferramenta, enfatiza a “mediação da ação” no mundo, tende a não diferenciar ferramentas e signo, usa termos mais gerais, como “artefatos”, “meios mediacionais”, e não trata e resolve de forma clara o “problema da internalização” – como o sujeito interage e reflete sobre o resultado da experiência.
- Já a mediação semiótica busca tratar o “problema da internalização”, via signos, como o sujeito interage e reflete (sua relação) sobre o resultado da experiência, foca na percepção, pensamento, e vai além … trabalha a metacognição.
- Os signos podem ser internos e externos, operam entre mentes de forma interativa.
- Os signos que operam sobre si mesmo são frequentemente internos (por exemplo, autoconversa), mas não precisam ser … por exemplo, um nó em um lenço como um mnemônico.
Mediação não Reflexiva e Reflexiva.
O que significa o uso reflexivo de um recurso?
- O sujeito não reflexivo de um recurso foca nas minúcias da tarefa, os fins a serem alcançados, pode entrar no ” modo automático” pensando em algo completamente alheio à tarefa.
- O usuário reflexivo do recurso, tem uma relação psicológica diferente com a tarefa, foca sua mente no recurso que está sendo usado e no modo de uso.
- O uso reflexivo de um recurso, seja ferramenta ou sinal, implica no distanciamento do recurso e seu uso.
- Tal distanciamento necessita de uma” “plataforma semiótica” (signos, sinais e símbolos) de “nível superior” para conceituar o recurso e seu uso, via mediação e reflexão.
- Essa distinção entre uso reflexivo e não reflexivo do recurso é particularmente dinâmica.
- No curso de uma atividade, a consciência reflexiva do uso do recurso pode (e deve) ir e vir … essa é uma habilidade que se ganha com temp e prática.
- A consciência reflexiva precisa ser temporária, porque enquanto o próprio recurso for o foco da consciência, é difícil prosseguir com a tarefa, isso exige uma carga cognitiva muito grande por parte do sujeito, ou seja, pensar tático e operacional ao mesmo tempo … essa é uma das razões do conhecimento tácito, prático, ser difícil de descrever teoricamente.
- Em vez disso, a fase reflexiva é o momento de sair e reorganizar a tarefa de modo que a atenção possa voltar a fazê-la, talvez, de uma nova maneira.