O construtivismo se dispõe a explicar a formação do conhecimento e o seu caráter de necessidade lógica.
Tem como máxima que “a razão não é inata, é desenvolvida pelo sujeito e o conhecimento não é pré formado.
A explicação do construtivismo para a formação do conhecimento está baseada em construções mentais.
As estruturas lógicas e matemáticas são um bom exemplo do como os conhecimentos não pré formados no indivíduo, comportam construções sequenciais que participam do processo de formação geral da inteligência.
Coprovadamente, podemos ser guiados por “esquemas matemáticos” e deduzirmos coisas através do raciocínio puro.
A abstração pode ser considerada como uma característica comum a todos os objetos: “tudo que está externo ao sujeito pode ser abstraído”.
Da mesma forma que existem tipos diferentes de experiências, há diferentes tipos de abstrações, uma coisa está conectada a outra.
Na teoria construtivista, o sujeito passa por estágios mais evoluídos de cognição, tal como uma espiral, graças às abstrações e à tomada de consciência delas.
Tipos de Abstração
Piaget distingue tipos de abstrações: empíricas, reflexivas, psico empíricas e metacognitivas.
Abstração Empírica
Abstração empírica deriva da experiência física real ou convivência para retirar informações do que é observável das interações do sujeito e reações do objeto.
Piaget
A abstração empírica qualifica o “objeto do conhecimento” e capta suas informações, tal como cor, forma, peso, textura, massa, calor.
Embora as abstrações empíricas sejam controladas por atividades inferenciais (raciocínio, fatos, hipóteses, indícios e dedução) elas são consideradas na teoria de Piaget pertencentes ao empírico (real).
As abstrações empíricas e reflexivas são de características opostas mas não de forma exaustivas e são encontradas em todos os níveis evolutivos do conhecimento.
Abstração Reflexiva
As abstrações reflexivas têm um importante papel que fazem as abstrações empíricas dependentes dela.
A abstração reflexiva é o primeiro nível de conceituação lógica que deriva das coordenações das ações do sujeito.
É constituída por dois processos solidários, segundo a teoria: 1) abstração por reflexo (ou projeção) e a abstração refletida – reflexão sobre a projeção e consciência da abstração.
Abstração por reflexo ou projetada, é uma projeção cognitiva num plano superior de cognição resultado do que é extraído de um nível inferior de abstração … diz respeito ao processo de assimilação.
Essa projeção é uma correspondência entre uma ação e sua interiorização, que resulta numa representação conceitual.
Pode se manter por muito tempo apenas no nível da ação, mediante um jogo de assimilações e coordenações ainda instrumentais e automáticos, mas sem tomada de consciência, ou seja, usar a ferramenta chegar ao resultado mas não ter uma consciência científica da experiência.
Abstração Refletida
A abstração refletida acontece quando sujeito toma consciência, a partir do resultado de sua interação com o objeto do conhecimento, do processo que utilizou e tomadas de decisão para chegar ao resultado.
Na abstração refletida o resultado é que a inteligência se torna representativa, e não mais prática.
O conceito de abstração refletida ou tematização retrospectiva é olhar para algo e tratá-lo como um tema de reflexão, levantando teorias a seu respeito e explicações.
A abstração refletida complementa e domina a abstração projetada e constitui uma construção nova na medida em que torna simultânea e explícita a correspondência e explicação do que foi elaborado.
As abstrações refletidas levam a um novo patamar de conheciment, quando uma abstração reflexiva se torna consciente.
Essa espécie de abstração possibilita ao sujeito estabelecer relações causais entre os fatos, sem intermediação do real, apenas no abstrato ou imaginário.
Essa capacidade representacional de estabelecer conexões hipotético-dedutivas sobre o mundo físico, permite que o sujeito consiga chegar a explicação causal e necessária de um fenômeno “qualquer” e possíveis caminhos alternativos.
Observar que esse tipo de abstração não está preso ao conteúdo e sim a forma.
O seja, nesse estágio de abstração conseguimos modelar a realidade pela abstração dedutiva de seus sistemas de operações e não mais da abstração empírica inferida diretamente dos observáveis.
Abstração Pseudo Empírica
São abstrações dedutivas, reprodutivas, comparativas, primeira potência e meta reflexões.
Além das abstrações empíricas, reflexivas (projetadas e refletidas), uma outra categoria de abstração considerada por Piaget são ” abstrações pseudo empíricas.
Elas modelam propriedades dos objetos do conhecimento e seus observáveis.
São oriundas das constatações das coordenações de ações de objetos doconhecimento que foram anteriormente arranjados num caminho racional.
Abstração Dedutiva
É a identificação de padrões.
É um primeiro nível de abstração pseudo empírica.
O sujeito deduz um dado objeto do conhecimento, faz antecipações, distingue conjuntos de objetos do conhecimento dispostos espacialmente em diferentes configurações, via projeções pré-representadas ou teorizadas.
A dedução utiliza como insumos os sinais, indícios, comportamentos que refletem ações ou coordenações anteriores relacionadas ao objeto do conhecimento.
Um exemplo desse tipo de abstração acontece quando o sujeito identifica um padrão de comportamento e toma uma posição ou ação consciente e pró ativa em função disso e se antecipa aos fatos.
Abstração Reprodutiva
São abstrações que reconstituem uma sequência de ações, principalmente com objetivo de reprodução de um evento.
Um exemplo desse tipo de abstração ocorre quando relatamos o que aconteceu num evento e ordenamos os acontecimentos no tempo e damos ao interlocutor uma noção dos eventos tal como se produziram.
Outro exemplo, é quando refazemos mentalmente um conjunto das ações que devemos realizar para produzir um dado efeito, em ocasiões diferentes, visando a reprodução.
Abstração Comparativa
O terceiro nível de abstrações pseudo empíricas é o das comparações, onde o todo organizado é confrontado com outros, análogos ou diferentes.
Essas comparações podem ser intencionalmente provocadas, mas também acontecem naturalmente, sem questionamento do sujeito.
Abstração de 1a Potência
O quarto tipo ou nível de abstração pseudonível de projeções pode ser caracterizado quando é possível articular uma situação em pensamento e ampliar a capacidade dedutiva do sujeito.
Quando o sujeito reflete sobre conteúdo interiorizado, consegue criar relações entre imagens evocadas mentalmente, explicar transformações ocorridas entre os objetos e usar formas diferentes para representar os mesmos conteúdos.
A intervenção dessas reflexões é notada quando o sujeito, observa a sua atuação e é capaz de deduzir os efeitos concretos dela.
Meta reflexão … reflexão de 2º potência.
A partir desse nível, o essencial se torna a reflexão propriamente dita, por oposição à projeção.
Neste nível, o sujeito não está mais submetido ao objeto, visto como um dado externo.
As meta cognições são de ordem lógico-formal e referem-se a operações de operações – daí o nome reflexão de 2ª potência, que possibilitam as classificações de classificações, ou seja, o cálculo combinatório.
Cada nova reflexão supõe a formação e um patamar superior de projeção, em que aquilo que constituía, no patamar inferior um instrumento a serviço do pensamento em seu processo, torna-se um objeto de pensamento e, portanto, tematizado, ao invés no estado instrumental ou de operação.
Todas as abstrações geram projeções de um nível inferior a um outro superior
Isso gera a evolução progressiva dos conhecimentos.
Abstração, Conteúdo e Forma
Num sistema conceitual, dois aspectos precisam ser distinguidos: conteúdo e forma.
O conteúdo dos conceitos diz a respeito aos observáveis, derivados das abstrações empíricas sobre o objeto do conhecimento.
A forma refere-se à reunião dos objetos do conhecimento num todo, apoiando-se nas suas qualidades comuns, isto é, em suas relações de equivalência, e deriva das abstrações reflexivas.
O desenvolvimento da abstração reflexiva assemelha-se a uma depuração progressiva de conquista das formas.
Cada patamar de abstração reflexiva comporta formas cada vez mais ricas e, portanto, mais aptas a aprender os conteúdos, ou seja, a obter novos observáveis.
A formação de cada um desses níveis ou graus de abstração implica novas reflexões de natureza qualitativamente diferente, de modo que a coordenação de suas ações não é da mesma natureza da coordenação de suas representações conceitualizadas, fruto das reconstruções que ocorrem em cada projeção.
Processo em Espiral
As abstrações e formação do conhecimento, é um processo em espiral, no qual toda projeção de conteúdo supõe a
intervenção de uma forma (reflexão) e os conteúdo projetados, por sua vez, envolvem a construção de novas formas, oriundas das reflexões.
Assim, existe uma alternância ininterrupta de projeções – reflexões – projeções … ou seja, uma sequência de conteúdos – formas – conteúdos reelaborados … e assim por diante.
São criadas novas formas, abrangendo noções cada vez mais amplas, sem um fim e sem um começo absolutos.
Nos níveis superiores de abstração é a reflexão que cada vez mais conduz o processo.
Nos níveis inferiores, o motor essencial das abstrações é constituído pelas projeções.
É o próprio desenvolvimento das abstrações reflexivas que engendra a construção de novas formas de representar conteúdos, formas essas que possibilitam a elaboração de estruturas lógico-matemáticas e de explicações causais para os fenômenos físicos.
Nos períodos iniciais do desenvolvimento, os conteúdos são sobretudo os observáveis.
Em seguida, eles passam a ser formas e prosseguem construindo formas de formas.
A riqueza crescente de formas face aos conteúdos conduz a dois resultados: um aperfeiçoamento das abstrações empíricas, pelos novos instrumentos de assimilação dela resultantes e a formação de abstrações pseudo empíricas, uma vez que os objetos passam a se revestir de propriedades mais numerosas, introduzidas pela reflexão.
As abstrações pseudo-empíricas são importantes nesses níveis elementares e, igualmente, no
período das operações concretas, quando o sujeito tem ainda necessidade de ver concretizada essa
operação sobre os objetos.
Elas servem, como afirmou Piaget (1977), de suporte às abstrações reflexivas.
Mas, na medida em que o progresso das abstrações reflexivas distancia o sujeito dos
conteúdos concretizados, a abstração refletida vai preponderando progressivamente, até que, no
período formal, chega a ser uma extensão das projeções e reflexões.
É contudo relevante destacar que as abstrações refletidas permanecem como que atrasadas em relação ao desenvolvimento das reflexivas.
São elas que irão se tornar reflexões sobre reflexões anteriores, caracterizando o pensamento refletido propriamente dito e os sistemas lógico-matemáticos de natureza formal, próprios do raciocínio científico.
A evolução das abstrações reflexivas e empíricas merecem uma alusão neste momento, para que o processo construtivo do conhecimento se esclareça.
O desenvolvimento da abstração reflexiva implica o aperfeiçoamento do mecanismo de reflexões.
Sua função no primeiro nível de projeções – projeções pré-representativas e representação das ações sucessivas – é o de elaborar quadros assimiladores, visando a abstração empírica.
Trata-se de uma origem modesta, uma vez que o sujeito é inconsciente da abstração e que há uma pequena diferenciação entre formas e conteúdos.
No nível das reconstituições e das comparações, os progressos da abstração conseguem gerar
funções e operações, mas com a condição de se apoiarem em abstrações pseudo empíricas tais, que
os resultados das projeções e reflexões permanecem materializados nos objetos transformados e
enriquecidos pela ação do sujeito.
Uma das formas finais da abstração reflexiva é a formalização, ou tematização retrospectiva,
caso limite em que a forma se liberta dos conteúdos.
Têm-se finalmente as abstrações refletidas.
Já a evolução da abstração empírica é completamente diferente. Em todos os níveis o seu funcionamento inclui, ao menos em uma parte, abstrações reflexivas.
De fato, para que se extraia de um objeto físico uma propriedade que lhe é inerente, como a cor, há que se fazê-lo a partir de uma quadro lógico-matemático, que deriva da abstração reflexiva. Assim, por exemplo, um giz é branco,
porque não é de nenhuma outra cor que não a sua própria.
O desenvolvimento da abstração empírica subordina-se de modo crescente à abstração
reflexiva.
Nos estados iniciais do processo de conhecimento, a abstração empírica predomina sobre a
abstração reflexiva.
Nos estados posteriores, inverte-se cada vez mais a proporção e as abstrações
reflexivas vão permitir progressos consideráveis à qualidade e à adequação das abstrações empíricas
ao real.
É que nos estados elementares, em que a abstração reflexiva é mínima, o sujeito consegue apenas registrar o que é perceptível nos objetos e realiza unicamente uma leitura quase pura, global e aparente dos mesmos.
Os avanços da conceituação das relações de ordem e classe, enfim, a construção das
estruturas lógico-matemáticas, acrescidas da métrica espacial e dos sistemas de referência
incrementam de modo crescente as propriedades dos objetos e das ações, que passam a ser
observáveis, depois de terem sido desconsideradas ou deformadas.
Assim é que um dado objeto, ou evento, que anteriormente não era “captável” em suas especificidades, passa a ser cada vez mais conhecido pelo sujeito e, portanto, melhor compreendido, graças à intervenção das abstrações
reflexivas.
O lançamento de uma bola para derrubar uma pilha de caixas aprimora-se em termos de estratégias mais adequadas e eficientes para atingir seu fim, na medida em que o sujeito se torna capaz de distinguir os observáveis dos objetos (peso da bola e das caixas, arranjo espacial das mesmas…) e das ações (distância entre o alvo e o sujeito que lança a bola, impulso dado à ação de lançar o projétil, direção do lançamento, para atingir a pilha, de modo a derrubar o maior número de caixas…).
A assimetria entre os dois tipos de abstração – em que a reflexiva alcança um patamar que funciona num estado praticamente puro e em que a empírica não evolui, a não ser pelo concurso da reflexiva – é devida às relações indissociáveis entre a assimilação e a acomodação
Decerto a abstração reflexiva deriva das coordenações de ações e, portanto, da assimilação recíproca dos
esquemas de ações ou operações.
A abstração empírica se apóia nos observáveis e, dessa forma, refere-se à acomodação dos esquemas aos objetos.
A acomodação, no entanto, por se subordinar sempre a um esquema assimilação, jamais funciona em estado puro.
Na abstração reflexiva, o aumento da compreensão (formas) e da extensão (conteúdos) é simultâneo, porque conteúdos novos só se elaboram através das formas.
O mesmo não ocorre na abstração empírica, em que o aumento das formas é determinado pela ampliação dos conteúdos observados, aos quais elas se submetem.
Sintetizando, há predomínio, nas abstrações empíricas, da extensão das classes, o que é devido à descoberta de novas propriedades dos objetos.
O que prevalece nas abstrações reflexivas é a compreensão, ou melhor, a introdução de novos atributos aos objetos pela ação do sujeito sobre os
mesmos.
Neste caso, as formas são criadas pela experiência e não apenas retirada dela, como acontece nas abstrações empíricas.
Novos conteúdos são engendrados por novas formas e as formas vão se construindo autonomamente, dado que a compreensão, num certo momento, não depende mais da extensão dos conteúdos.
As abstrações, portanto, constituem fontes de novas estruturações, porque conduzem o sujeito
à generalização de seus conhecimentos.
Generalizar consiste em assimilar o desconhecido como sendo conhecido. Esse processo
implica o apoio mútuo entre abstrações e generalizações, conforme o que se segue.
Primeiramente é preciso distinguir as formas de generalizações possíveis. Piaget definiu duas,
quais sejam: as generalizações construtivas e indutivas.
À abstração empírica correspondem as generalizações indutivas e às abstrações reflexiva e
refletida, as generalizações construtivas.
As generalizações que se referem às abstrações empíricas conduzem à extensão dos
conhecimentos, isto é, a encontrar em novos objetos propriedades que neles já existam, mas a partir
da descoberta de propriedades semelhantes em outros objetos anteriormente conhecidos.
Por exemplo, um turista reconhecer que a cidade do Rio de Janeiro é uma metrópole, a partir do que ela se
parece com Nova Iorque, ou perceber que uma pessoa é descendente de árabes, pela semelhança
entre seus caracteres fisionômicos e os de outra pessoa, da mesma nacionalidade.
As generalizações que dizem respeito às abstrações reflexivas estão ligadas à compreensão,
isto é, à introdução em novos objetos de uma propriedade que nele não existia, mas que foi criada a
partir da ação do sujeito sobre esse objeto.
Nesse caso, por exemplo, considerar que um objeto C é menor do que A, porque A>B>C não implica uma descoberta (o tamanho de C existe em si mesmo), mas a criação de uma relação – transitividade – entre esses objetos, relação essa que é devida à ação do sujeito sobre os mesmos.
Assim, as generalizações indutivas vão do particular para o geral; caminham do alguns para o
todos, por extensão. Reportando-nos ao exemplo citado anteriormente sobre as cidades de São Paulo